quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

PORTUGAL / CASCAIS - GAIVOTAS JUNTO AO CAIS

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(Foto da Baía de Cascais - 5/1/2012)


Tenho que ir periodicamente a Cascais. Por vezes, com algum tempo de espera. Aproveito, sempre que posso, para saborear aquela vila que adoro, sentir o seu encanto e para me aproximar do mar. Olhar as suas escarpas alcantiladas debruçarem-se sobre a pequenas vagas de ondas chãs que se dirigem para a pequena praia em concha. Ou ver esta praia mais larga, mais dada, que facilmente se expõe a quem passa na marginal calcetada. O cais ao fundo onde, quantas vezes, pescadores conversam, recorta-se num céu de final de tarde...


A praia está vazia de gente, mas elas estão lá... __ as gaivotas. As gaivotas com que já partilhei um gelado. As gaivotas que se juntam em pequenos bandos que volitam, saltam e lançam os seus gritos entrecortados que se ouvem à distância e fazem eco pelos ares àquela hora da tarde; ou que se mantêm estáticas, aparentemente atentas, parecendo esperar não sabemos o quê talvez vindo do mar. Pequenos voos levam-nas a retornarem ao lugar onde estava o grupo reunido. Parecem um pequeno exército que obedece de forma desordenada a uma qualquer lógica que se nos escapa.


Gaivotas... Esse símbolo de liberdade e de proximidade do mar. Mar que nos liga aos outros pontos do Mundo. Cais que lembra a partida em busca de um sonho, da liberdade, da fuga ou a simples necessidade de labuta para ganhar o pão de cada dia, só Deus sabe com que sacrifício!... Leva-se o anzol, a rede, o covo, os pequenos barcos ou as traineiras... E as gaivotas também lá estão... Certamente, na expectativa de ganhar o seu quinhão... E voam... Voam alto, bem alto. Tão alto que, por vezes, gostaríamos de ir com elas, sermos transportados nas suas asas.
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Procurei um poema sobre gaivotas. O meu engenho não dá para mais. E encontrei. Encontrei este que me deu prazer ler. quem é o autor? Joaquim Sustelo. Será que este nome vos diz alguma coisa? A mim não. Talvez não seja mais do que um ilustre desconhecido. Apenas sei que escreveu um poema lindo que traduz um pouco o sonho que vivo nas asas de uma gaivota...



"Eu pus um sonho a voar
Nas asas duma gaivota...
Um sonho de liberdade
De paz, amor e carinho;
Num impulso sobre o mar
Ela tomou sua rota
Cheia de força e vontade
De vencer todo o caminho.

Esperei dias, esperei noites
Pelos ventos de mudança...
Mas chegou-me um vento frio
Gélido todos os dias;
Ondas do mar em açoites
Rodopiam numa dança
Batendo no cais vazio
Em alvoradas sombrias.

Talvez a minha gaivota
Quem sabe se o sonho voa
Pelas terras de ninguém...
Ou ao lembrar-me em risota
Tenha perdido o aprumo,
Não achando ideia boa
Levar um sonho de alguém.
Talvez tenha sucumbido
Sem cumprir essa missão
Que eu com afecto pedira;
Talvez não vendo o sentido
Ou achando não ser maga
Largasse o sonho-ilusão
Como mais uma mentira.

Caindo nalguma vaga,
Tivesse perdido o rumo...
Vou ao cais de vez em quando
Como quem inda acredita,
Mas perdendo quase a esperança
De alguma coisa mudar...
De gaivotas vejo um bando,
Vou escolher a mais bonita!
A ver se leva e não cansa,
Este meu sonho a voar."

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