.
Desde pequena que oiço falar em Neves e Sousa. Em casa dos meus avós havia alguns quadros dele. Cubatas, indígenas das mais diversas etenias de Angola, faziam parte do meu imaginário...
Nunca tive a oportunidade ou curiosidade de procurar algo mais sobre ele. Até esta semana, em que soube da exposição, na Galeria Verney, de uma parte do espólio daquele pintor das gentes e paisagens angolanas.
A minha curiosidade foi acicatada... Passeei pela exposição e pela Net. Descobri, naquele espaço que me começa a ficar familiar, o seu cavalete, o seu banco e até o pote com os seus pincéis; os seus registos gráficos; fotografias do pintor nos mais diversos momentos da sua vida; livros; desenhos a carvão de grande beleza; esboços de traço rápido e preciso; um quadro a óleo (o seu último e inacabado quadro) e diversas aguarelas. Descobri um pintor de quem conhecia pouco mais do que o seu nome. Daí que me permita deixar aqui mais um ponto onde aquele "angolano por fado e castigo" possa vir a ser encontrado através das suas palavras e pinturas.
"...começou a doença da pintura, com tintas que a minha mãe tinha, e quando elas acabavam eu fabricava as minhas com terras e frutas bravas e os pincéis eram feitos com pêlo de bicho do mato, velhos cartuchos de metal que eu serrava e um caniço… O pêlo amarrado era seguro com pez e funcionava…"
Bessangana - Luanda
..."Comecei então a pintar com tintas boas e ao mesmo tempo a descobrir a praia, gente da minha idade, pessoas e coisas que não conhecia." ...
Mulher de Cabinda
..."Comecei a viver só, com 17 anos. Fiz a primeira exposição em Luanda."...
Viúva da Kissama
..."Era Angola a tomar a pouco e pouco conta de mim."...
…como não consegui viver em Angola vivia ela em mim, como coisa íntima e secreta e eu a mostro com o carinho de sempre a quem quer ou pode apreciá-la… por isso lhe chamo "Angola Minha Terra".
.
ANGOLANO
"Ser angolano é meu fado e meu castigo
Branco eu sou e pois já não consigo
Mudar jamais de cor e condição.
Mas, será que tem cor o coração?
Ser africano não é questão de cor
É sentimento, vocação, talvez amor.
Não é questão, nem mesmo de bandeiras,
De língua, de costumes ou maneiras...
A questão é de dentro, é sentimento
E nas parecenças de outras terras,
Longe das disputas e das guerras
Encontro na distância esquecimento."
(Neves e Sousa, 1979, Bahia)
2 comentários:
BONITOS QUADROS
BONITAS PALAVRAS
ESTEJA ONDE ESTIVER...
SÓ LHE PODE SER AGRADÁVEL! M.M.
Passei por lá ontem, a correr.
Para a semana vou ver com mais calma
Enviar um comentário