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Ao longo da vida, consegui ver olhos brilhando em caras mais escuras do que a minha. Brilho que ofusca a cor da pele. Brilho que nos permite conhecer aquele que é igual a nós e pode esconder pequenos tesouros. Brilho que nem sempre conseguimos descortinar. Brilho que nem sempre se revela todo porque barreiras há que são muitas.
CIGANA, bonita, inteligente, interressada, responsável, boa aluna; 8º ano; 12/13 anos. Desejosa de continuar os estudos, foi retirada da Escola pela família, contra a sua vontade. Tinha à sua espera um casamento que não queria e um marido que não escolheu...
CHINESA, aluna extremamente interessada, trabalhadora, esforçada e perseverante... Mas o Português era um quebra cabeça... Ainda assim, o Português, ia sendo ultrapassado, à medida das suas possibilidades, com uma tenacidade digna de nota. Ganhou as Olimpíadas da Matemática a nível nacional!...
MULATA, aluna com fracos resultados. Possivelmente, pela pouca aptidão para o estudo mas, sobretudo, porque desempenhava o papel de mãe para os vários irmãos, fazendo a lida da casa, cozinhando e cuidando de uma avó com problemas graves de saúde. Era a mais velha... Alternativa não havia. A carga era toda para ela. O tempo não estica; a capacidade de concentração na leitura, interpretação e memorização, certamente, se ressentem. Tinha a dança no sangue. Aprendeu a ser uma "mãe" para os colegas de turma com um sentido de justiça que defendia com ardor. Ganhou todas as provas de Atletismo na escola, sendo um "ídolo" para aqueles que a acompanhavam no dia-a-dia.
INDIANOS, bem dispostos e brincalhões, amigos de infância com quem fazia concursos de apanha de nesperas e "pescava" com canas improvisadas apanhadas no canavial que bordejava o Rio Limpopo, em João Belo, Moçambique. O tempo passou mas a lembrança ficou.
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