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Ao longo da vida, cruzei mares e oceanos.
Senti o infinito do seu manto azul ou cinzento, com reflexos de espuma ou de prata, mais (ou menos) sereno.
Vi o Sol descer em bola de fogo, "enxameando" tudo em volta de vermelhos, laranjas, violetas e tantas outras cores e tons por definir.
Vi o negro absoluto do espaço envolvente, algumas vezes, quebrado por pontos cintilantes lá no cimo do céu.
Senti a sua fúria que nos lançava, quais paus de fósforos, dentro de navios que, de repente, se transformavam em frágeis cascas de noz.
Senti o sentimento de termos um mar só para nós.
A minha memória e o meu interesse apenas me permitiram decorar algumas estrofes dos Lusíadas, parte do poema de Augusto Gil "A balada da neve", e lembrar este poema que o meu pai me ensinou a declamar em jeito de "diseuse":
"Ó mar salgado,
quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos,
Quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram,
Quantas noivas ficaram por casar,
Para que fosses nosso, ó MAR!"
Quando, nas minhas arrumações, encontrei aquele pequeno pedaço de papel cuidadosamente recortado onde o meu pai o escreveu. De novo, naveguei pelo Pacífico, Índico, Atlântico, Mediterrâneo e Mar das Caraíbas...
Nasci lá longe... tão longe!... Quem tornou tudo isto possível? Os nossos navegadores que "deram novos mundos ao Mundo", de que tive o privilégio de desfrutar em parte.
É assim que, este pequeno poema de Fernando Pessoa volta à minha memória e aos tempos de miúda, altura em que, para nós, tudo é possível. Tornando-nos capazes de navegar no mar do nosso passado enquanto o presente se constrói e, certamente, o futuro...
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