Estávamos no norte da Tailândia, no Triângulo Dourado, zona onde convergem o rio Mekong e o rio Ruak, definindo as fronteiras entre os três países que se avistam em simultâneo dali: o Laos, o Mianmar (antiga Birmânia) e a Tailândia.
A etapa final da viagem, naquele dia, foi feita de barco ao longo do famoso rio Mekong. Era uma embarcação frágil. O motor fazia muito barulho e toda a estrutura do barco parecia estremecer, enquanto cortava as águas do rio que corriam com alguma força.
A paisagem era bonita, mas o céu estava carregado. A certa altura, avistámos umas construções bastante rústicas, na beira do rio e que davam para um cais. O barco mudou de rumo e abrandou a marcha. O cais estava bastante gasto, mas, parecia minimamente cuidado. Era aquele o nosso destino do final do dia. Atracámos e saltámos para a plataforma de tábuas que fazia de cais e que rangia de uma forma pouco convidativa. Nessa altura, começámos a sentir umas gotas grossas caírem sobre as nossas cabeças.
Tínhamos sorte. O nosso hotel distava uns trezentos a quatrocentos metros do ancoradouro. A água do rio barrenta ainda parecia mais rápida e ameaçadora. Do cais, conseguíamos ver, naquele final de tarde, o nosso hotel envolto por uma vegetação luxuriante. Ficava do outro lado da estrada marginal ao rio, no meio de um dos numerosos montes que se conseguiam ver daquele ponto.
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Precisávamos de fazer apenas um pequeno percurso a pé, mas tivemos que correr. De repente o céu pôs-se cor de chumbo, tão escuro que parecia pesar, parecia que se ia rasgar. E “rebentou” mesmo. Assim que entrámos a porta do hotel, abriram-se as portas do céu. Parecia que toda a água do mundo se abatia sobre nós. Nunca tínhamos visto nada assim...
Fizemos o checK-in, na recepção do hotel. Indicaram-nos os nossos quartos. As portas dos quartos abriam todas para uma longa varanda que dava para os jardins. As luzes nas paredes eram ténues. O calor húmido era intenso. Assim como tinha surgido, a chuva pára. Foi só o tempo de seguirmos para os nossos quartos. Quando lá chegámos, só ouvíamos o "ping-ping" das gotas a caírem do beirado dos telhados.
Fizemos o checK-in, na recepção do hotel. Indicaram-nos os nossos quartos. As portas dos quartos abriam todas para uma longa varanda que dava para os jardins. As luzes nas paredes eram ténues. O calor húmido era intenso. Assim como tinha surgido, a chuva pára. Foi só o tempo de seguirmos para os nossos quartos. Quando lá chegámos, só ouvíamos o "ping-ping" das gotas a caírem do beirado dos telhados.
Depois que o céu se esvaziou da água que carregava, fez-se um silêncio denso. Entrámos no quarto. Fizemos o reconhecimento do costume. Instalámo-nos, depois que as malas chegaram. Fui à pequena varanda do quarto. Mal podia acreditar... A lua enorme brilhava a ponto de se conseguir vislumbrar o seu reflexo no rio que corria em baixo. As colinas recortavam-se em vários pontos da paisagem nocturna. Começavam a ouvir-se pequenos ruídos __ o “gri-gri” dos grilos, o coaxar das rãs e outros. Agora percebíamos porque é que uma quantidade tão grande daqueles minúsculos batráquios apareciam por todo o lado, nos corredores do hotel e até mesmo nos candeeiros.
Mas será que a diversidade do nosso planeta é tão grande assim?
Lembrei-me daqueles momentos, agora que ouço o silêncio. Uma trovoada repentina começou há pouco. Acordámos de súbito. Um enorme estrondo fez-se sentir a ponto de parecer que a casa abanava. Outro relâmpago... e novo trovão. Uma bátega de água tomba com uma força “pesada”. O céu tinha-se rasgado. A porta do nosso quarto abre-se com violência. O Bob estava ao lado da nossa cama, olhando para a porta como se algo de monstruoso por ali pudesse entrar a qualquer instante. À medida que a tempestade se ia desenrolando, tive que me levantar várias vezes da cama para o acalmar. Acabei por me mudar para o quarto de hóspedes com ele.
Mas, então, o silêncio impôs-se de repente. Peguei na caneta...
Lembrei-me do Triângulo Dourado. De repente, estava lá... De repente, viajava de barco a motor meio desengonçado... De repente, corria debaixo daquelas gotas cada vez mais grossas e abundantes... De repente, entrava na profunda calma daquele distante país tropical. Só que, desta vez, o calor não era intenso e húmido e os sons eram apenas os da lembrança.
É o que a memória dos sentidos tem __ basta uma trovoada, ainda que não seja tropical mas sim de um clima temperado, para viajarmos no tempo e no espaço. O problema é que as alterações climáticas que se vão fazendo sentir, fazem com que as diferenças vão sendo cada vez menores e menos previsíveis.
(Imagens retiradas da NET)