O ARDINA E EDUARDO COELHO
Passeando por Lisboa, no jardim de São Pedro de Alcântara, encontrámos o primeiro "senhor de bronze" __ um busto assente num bonito pedestal. Estátua essa erguida em 1904 que representa Eduardo Coelho fundador do jornal Diário de Notícias e, por baixo, a escultura graciosa dum pequeno ardina que apregoa o famoso jornal. É um conjunto elegante e bonito que merecia, no entanto, um maior cuidado no ajardinamento do canteiro envolvente. Enquanto que o busto de Eduardo Coelho não é mais do que um busto de certa forma semelhante a tantos outros, a representação do rapaz é de grande beleza e simplicidade de "traço", conseguindo transmitir-nos o movimento e a urgência no espalhar da notícia. Mostrando-nos a agilidade e o desembaraço de uma criança ciente da responsabilidade da sua tarefa.
O CAUTELEIRO
Descendo a estreita Rua do Alecrim, deparámo-nos com o espaçoso Largo Trindade Coelho (igualmente conhecido por Largo da Misericórdia), onde se situa a Igreja de S. Roque e pudémos ver a estátua de um homem em pé no meio daquele vasto espaço calcetado. Esta estátua foi erigida por iniciativa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em homenagem a uma das figuras mais típicas da cidade de Lisboa, o cauteleiro. A sua inauguração coincidiu com a comemoração dos 204 anos de existência da Lotaria Nacional. A estátua de autoria de Fernanda Assis foi inaugurada a 18 de Novembro de 1987.
Trata-se de uma escultura de bronze com 1,78m de altura. Na escultura estão presentes os traços típicos de um cauteleiro __ O boné com chapinha, o cigarro no canto da boca, uma mão que estende a cautela. E é esta cautela que ele solicitamente oferece ao passante...
O POETA «CHIADO»
Mais abaixo, chegámos ao Chiado. No geral, acredita-se que o Largo do Chiado se chama assim em homenagem a um escritor/poeta do séc. XVI, António Ribeiro. Mas a verdade é outra. Foi o escritor que tomou o nome daquele "sítio" de Lisboa, que por sua vez vinha de um botequim daquele local e do seu taberneiro.
António Ribeiro "Chiado", nasceu na região de Évora, possivelmente em 1529(?), é um dos autores mais marcantes da chamada escola vicentina. António Ribeiro, de alcunha «CHIADO», era um frade franciscano que abandonou a vida conventual para se dedicar à vida boémia de Lisboa.
Bom observador da vida popular, levou ao palco a linguagem, as preocupações e os costumes das camadas humildes da população, com os seus tipos sociais característicos, à maneira do mestre Gil Vicente, autor que «Chiado» imitava conscientemente, mas sem o sentido teatral daquele. «Chiado» ficou mais conhecido pelas suas polémicas, do que pelas suas peças teatrais. "Apesar de não ser muito douto, tinha verdadeiro talento e bastante conhecimento das boas letras. Improvisava versos com a maior facilidade, mais pelo impulso da natureza que da arte, sendo os seus versos muito jocosos e joviais".
Perguntamo-nos: Sentado do cimo do seu pedestal que pensaria e que escritas faria sobre a sociedade que vai vendo passar desde 1929, altura em que foi colocado num dos extremos deste largo que ele tanto frequentou?!...
Tal como em toda esta zona, quanta História por ele tem passado! Que "manancial" para as suas peças teatrais...
FERNANDO PESSOA
Em frente e do outro lado da Praça, está outro "senhor de bronze", considerado um dos maiores poetas portugueses. Também ele está sentado em pleno Chiado vendo Lisboa passar. Uma mesa, a sua cadeira e outra cadeira vazia... Talvez um convite para quem queira sentar-se junto de quem tanto tinha para dizer, tanto para sentir que um só nome não lhe bastou. Um poeta de quem aprendi a gostar. Fernando Pessoa, e tantos heterónimos. Ele próprio dizia: __" NÃO SEl QUEM SOU, que alma tenho..."
Para além disso, foi muitos outros "eus": foi tradutor, trabalhou em várias firmas da capital. Foi também empresário, editor, crítico literário, jornalista, comentador político, tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, ao mesmo tempo que produzia a sua obra literária em verso e em prosa.
Hoje, está ali pronto para estar com quem com ele se sentar. Porém, distante, um pouco ausente no seu mundo de poemas sofridos, de dúvidas e de tantos talentos...
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."
(Fernando Pessoa)
(Fotografias tiradas em Julho de 2012 e informações retiradas da NET)