segunda-feira, 9 de julho de 2012

O ELÉCTRICO PELA CIDADE DE LISBOA - BAIRRO ALTO / PORTUGAL







O eléctrico (linha 28) faz um percurso turístico, passando pelas zonas mais antigas da cidade...



O elevador da Glória traz-nos da Praça dos Restauradores até cá a cima ao Jardim do Miradouro de S. Pedro de Alcântara no Bairro Alto...

(Fotografias tiradas em Julho 2012)


Mas ainda há o eléctrico da Rua do Alecrim que muitas vezes apanhava para ir e vir da Faculdade no Príncipe Real ao Cais do Sodré de onde saía ou apanhava o combóio da Linha de Cascais... E tantos outros... muitos dos quais não conheci. 

Foi em alguns daqueles eléctricos que vi pendurados miúdos na rectaguarda fugindo aos olhares do revisor ou guarda-freio, apanhando boleia à custa de atrevimento e ousadia... Miúdos atrevidos, garotos que não sei se os há hoje.

Sentados nos seus bancos corridos com as suas janelas totalmente abertas  no Verão, somos capazes de ver com mais pormenor os prédios com os seus azulejos mais ou menos preservados; sentir o ar mais fresco e por vezes um pouco mofento sair das portas e janelas abertas que vão desfilando quase junto a nós; de ouvir o badalo da sineta anunciar a passagem do eléctrico com o seu característico barulho metálico das rodas nos carris; somos quase capazes de roçar as gentes que passam a pé nos estreitos passeios calcetados daquelas ruas e vielas também estreitas e muitas delas ainda hoje revestidas com os seus cubos de pedra luzidios pelo desgaste do tempo em vez do asfalto de outros sítios;  podemos sentir os peões por quem passamos duma forma tão próxima que nos parece que seria possível falar-lhes, senti-los, tocar-lhes ... Perguntar-lhes por Lisboa.

E que dizer de um dia soalheiro de Primavera?!... Passear de eléctrico por Lisboa antiga é talvez a forma mais agradável de sentir esta cidade que tanto tem para contar e para mostrar.

Que saudades do tempo em que "corria" pela íngreme ruela do Elevador da Glória que me trazia da Baixa até ao Bairro Alto ou pela Rua do Alecrim a ver quem chegava primeiro. O eléctrico tem prioridade sobre os outros meios de transporte, embora tenha que obedecer às mesmas regras de trânsito... Sim, que saudades dos tempos em que ainda assim lhe tomava a dianteira e, no fim, chegava fresca como se tivesse ido dentro dele.



O ELÉCTRICO

(Pintura de  Real Bordalo)



Apanho o eléctrico amarelo à pendura,
Agacho-me para o condutor não ver,
O que as tintas, e pincéis de seda pura,
Imortalizaram numa tela sem perceber.

Miúdo traquina pendurado na pintura…
Brincando às escondidas sem saber,
Que um pincel o apanhou com ternura.
Viaja de graça num quadro sem o ter…

E salta para o chão em andamento.
Abala, embalo, travo e não me estalo…
E o Mestre pinta na tela o movimento.

E ficam as cores arco-íris nas telas.
Os putos, os eléctricos e as vielas.
Lisboa é toda sua! Real Bordalo.


(Poema de Rogério Martins Simões)



1 comentário:

simecqcultura.blogspot.com disse...

Um olhar atento e comentários interessantes. Eu sofro da mesma nostalgia que nos envolve quando se fala deste meio de transporte.M.A.