segunda-feira, 21 de maio de 2012

PORTUGAL / CASCAIS - Ó SINO DA MINHA ALDEIA (FERNANDO PESSOA)










Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.


E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.


(Poema de Fernando Pessoa __ esse poeta tão facetado e discreto, expoente da poesia do século XX)



Do nascer ao pôr do dia ouvímo-lo tocar. Dá as horas lá do cimo, no campanário da igreja, espalhando o som pelas redondezas dando conta das horas e, para que se não percam, também as meias. Ainda que tenha dúvidas, sinto algo de maior que bate dentro do meu peito ao ritmo de cada uma das suas cadenciadas e arrastadas badaladas. Para nós não é passado. É um presente de companhia. Quem sabe um dia saudade...




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