A VIDA MUDOU, COMPANHEIRO...
Já não me apresso para vencer a corrida contra a campainha.
A campainha da entrada...
A campainha de saída...
A VIDA MUDOU...
Já não circulo entre carteiras
onde se sentam os meus alunos mais, ou menos, interessados
pelos assuntos tratados.
A VIDA MUDOU...
Já não circulo na sala
onde se projectam acetatos,
se passam vídeos,
se escreve no quadro,
se discute,
se conversa ou dita.
Já não preparo os materiais
que tanto gozo me deram:
Cartolinas, fichas ou acetatos.
A VIDA MUDOU...
O meu assunto, agora, é outro.
Papéis.
Muitos papéis.
__” Vamos trabalhar!..”
E, eis que, salta, o meu afadigado companheiro de trabalho...
A cauda, abana.
Corre para a porta da sala.
Espera que eu entre e me sente no lugar.
Deita-se ao lado,
atrás da cadeira,
debaixo da mesa.
Instalamo-nos os dois.
A VIDA MUDOU, COMPANHEIRO...
Já não corro ao toque da campainha...
Já não circulo entre as carteiras...
Já não faço as minhas cartolinas, acetatos e fichas...
A VIDA MUDOU...
Faço um trabalho de equipa.
Mas, os outros, não estão cá.
Agora, somos só nós os dois, a Tina Turner, Enya, Celine Dion...
__” Vamos trabalhar!”...
Mas há tarefas para cumprir,
Prazos a respeitar...
A campainha já não toca,
Não há salas ou aulas a preparar.
O trabalho está sempre pronto a continuar.
A VIDA MUDOU...
E, as voltas que a vida dá!...
Agora, é dizer:
__” Vamos trabalhar!...”
E, é quanto basta para começar.
Permanece deitado a meu lado.
A sala, agora, é só uma;
A secretária, só uma;
A tarefa, só uma;
E, um só companheiro...
Não conhece os diferentes tipos de vulcanismo,
E formas de depredação...
Não se preocupa com o teste de Matemática,
ou Geografia...
ou se está quase na hora de almoço...
ou, fez os TPCs...
Mas, está tranquilo e atento a qualquer movimento,
Chamamento,
Ou, manifestação de afecto.
Só há uma lição que sabe de cor:
__” Sou teu amigo.
E, estou, aqui, contigo, p'ra te fazer companhia.”
__” Vamos trabalhar!...”
Acaba por ser um tempo tranquilo, de trabalho e partilha.
Pois não há trabalho que custe,
Quando a monotonia dos papéis é compensada
Pela alegria duma fiel companhia.
Ainda que, o trabalho do meu companheiro, não seja mais do que o de abanar a cauda, quando me dirijo a ele.
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