sexta-feira, 23 de outubro de 2009

AS MÃOS QUE NÃO ME DEIXARAM MORRER...

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Diz-me a enfermeira: __”Parece que vai para uma festa!”. De facto, era esse o espírito. Sentia-me segura. Tinha feito a preparação para o parto. Finalmente, tinha chegado a hora. A despedida do V. foi efusiva. Mas... não podia levar nada... Nem a aliança?!... E, os óculos?!...

Entrei à meia noite. Passado um tempo que me pareceu uma eternidade, perguntaram-me se queria fazer a epidural. Disse que sim. Mas não pegou. Pode acontecer...

Às seis da tarde dava entrada no bloco de partos. Estava previsto um parto normal, mas o bebé estava em sofrimento, havia que o tirar o mais rapidamente possível. O perímetro cefálico do bebé estava acima da curva máxima. Seria tirado a ferros.

Algo correu mal. Toda a gente se movimentava. Seria que já não havia nada a fazer? Foram pedidos 10 litros de crioprecipitado (concentrado de plaquetas sanguíneas). (Nós temos de 8 a 9 litros de sangue em circulação no corpo!...) Foi necessário contactar outros hospitais, não havia o suficiente em stoque.

Sinto-me “levantar”, começar a “subir”. Ouço-me dizer: __”Agarrem-me!... Não me deixem fugir!” . Respondeu-me uma voz meiga e suave: __”Nós não deixamos!”. Tive a nítida sensação de que se quisesse era só deixar-me ir. Mas, eu queria aquele bebé, estava de bem com a vida. Queria ficar. E aqueles dois pares de mãos “agarraram-me”.

Só conheci um dos pares de mãos. Eram os da enfermeira que segurou as minhas mãos durante o parto. Foi ela que me respondeu:__”Sim, é muito lindo”, quando eu disse, no meio de toda aquela confusão: __”O meu bebé é tão lindo!”. Adorei conhecê-la, quando, mais tarde, me veio visitar ao quarto.

O outro par de mãos não cheguei a conhecer. Só sei que eram as mãos de uma médica, que, suavemente, ia movimentando os dedos sobre a minha cabeça, enquanto me sussurrava palavras meigas.

Mas há uma certeza com que fiquei de tudo por que passei... Se quisermos ajudar alguém a não “partir”, ou a sentir-se melhor dentro do sofrimento, basta uma presença amiga, tranquila, meiga, ou então um par de mãos que nos dizem:__”Estamos aqui...”

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