quarta-feira, 8 de julho de 2009

DOENÇA BIPOLAR, NA PRIMEIRA PESSOA...

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(NET)


"Manic-depression is a mood disorder that affects literally millions of people worldwide. It is classified as a mood disorder because it affects both an individual's emotions as well as how an individual interacts emotionally with others." - (NET)




SER "BIPOLAR"

Ao som de “This magic moment”, da rega do jardim e o teclado do meu computador, escrevo na primeira pessoa o que me tem atormentado nestes últimos anos e, continuará a fazê-lo, a menos que a cura, ("que está aí, tenho dado como certo!... É mais dia, menos tempo...”, como me afiançaram), chegue e possa resolver a situação...

Doente Bipolar ou, Maniaco-Depressivo, o nome técnico. O que causa esta doença? O que é? Tenho um pequeno livro que explica rigorosamente o que é. Mas, não vou consultá-lo. Vou explicá-lo na primeira pessoa. Ou seja, explicar aquilo que sinto e, talvez com risco de errar cientificamente, aquilo que penso que é.

A doença resulta da produção em excesso ou por deficiência de determinadas substâncias que funcionam como neurotransmissores, permitindo a transmissão dos impulsos eléctricos de neurónio a neurónio; responsáveis, basicamente, por aquilo que somos a nível do pensamento e mesmo das nossas afectividades, sentimentos de auto-estima, equilíbrio, capacidade de expressão, até mesmo de pegar numa caneta e fazer uma letra legível e suficientemente grande; de discernir a realidade daquilo que são fantasmas da nossa memória, dos nossos medos, das nossas fobias.

Certamente, esta não será a definição da "Doença Bipolar" que vem nos livros, mas sim a de quem sentiu e sente na pele aquilo que ela é, e com a qual tem que tentar coexistir.

Para quê remexer no que já passou?!... Só que, o problema está em que pode surgir a qualquer momento, desde que por qualquer motivo se pare a medicação; ou, algum factor externo causador de uma emoção demasiado forte, seja difícil de ser tolerado; ou simplesmente pelo facto de sermos umas “bomba-relógio” que nunca se sabe quando vão explodir.

É, no fundo, uma doença caracterizada por mudanças de humor levadas a um ponto extremo.

De um lado, temos a depressão mais profunda em que, o único refúgio é o fundo da cama, debaixo dos lençóis, com as persianas fechadas em pleno meio-dia de um dia de Sol radioso. Do sentimento de perda e abandono mais profundo, mesmo que, em torno de nós, possamos ter os entes mais queridos, atentos e preocupados. O sentido da maior incapacidade, inutilidade e baixa autoestima, a que qualquer ser humano se pode entregar de alma e coração.

Do outro lado, temos a euforia. Uma capacidade de expressão, argumentação, trabalho e concretização acima da média. Uma sensibilidade de diapasão na afinação do tom. Um querer fazer. Um querer ir. Um querer dar. Um querer retribuir. Um querer voltar onde fomos felizes. Um querer viver sem desperdício de tempo. Um querer tudo fazer. Tudo partilhar. Um não mais parar... Um não dormir... Um mexer... Um correlacionar. Um começar a acelerar. Levantar voo, com os dois pés ao mesmo tempo... quando já nada nem ninguém nos agarra. A partir daqui... só a lembrança do que nos é contado depois. Só a lembrança de pequenos “flashes” inconsequentes, em que somos donos da verdade, do nosso querer, do nosso fazer, da nossa obsessão, do já não ouvir; do fazer sem lembrança futura; do gritar sem saber o quê; do negar aquilo em que mais queremos acreditar e não conseguimos.

Depois, vem o retorno. __”Olha, aquilo ali...”; __”Foste tu que...”; __”E, o que tu disseste!...” ( Nâo, não foram mentiras, começaram por ser factos, verdades, por vezes difíceis de ouvir, ocorrências, que se atropelavam e, depois, do pico da sua coerência, começavam a baralhar-se ao ponto de perderem o nexo...).

Um doente bipolar é um caso extremo de desordem do humor. A química dos seus neurónios tem que ser reposta com medicação __ tem sido o lítio, desde os inícios do século XX (?)... Hoje, começam a aparecer novos fármacos. Os medicamentos fazem engordar. Hoje, alguns deles, já nem tanto. Quando não estamos numa fase estabilizada e, por isso, a necessitar de um reforço de medicação, sentimo-nos uns “zombis”, tudo é difícil, o movimento, o falar, o fazer, o pensar... Tudo é difícil fazer. Dependemos dos outros para fazermos aquilo de que mais gostamos: ser independentes. Sentimos a inutilidade do sono que temos e a que queremos resistir, apesar de sabermos da sua necessidade.

Mas, a cura está aí. Estamos no século XXI. Hoje, as Ciências Biomédicas, as Ciências Farmacêuticas, tudo vão conseguindo. Há uma esperança ao fundo do túnel.

E parece que, a barreira entre um "bipolar" e as pessoas ditas "normais", não é tão nítida assim. Mais do que uma pessoa, e por mais do que uma vez, me disseram: __”Se calhar, “bipolares” somos nós todos um pouco. Sabes? Ao contares-me o que te está a acontecer, começo a pensar que, a mim, também acontece um pouco. Se calhar, também sou um pouco "bipolar"...”

Quem sabe se não têm razão?!... Não  o seremos muitos de nós, um pouco...?! (uns mais, outros menos)... A verdade é que se trata apenas de doses maiores ou menores de certas substâncias, que fazem funcionar o nosso cérebro, as nossas emotividades e a nossa percepção da realidade...

Por ironia, dentro de tudo o que é ter de ser uma “bomba-relógio”, não deixa de ser espantoso, sentir, como funciona a nossa máquina __ que, no fundo, não é mais do que o resultado de reacções bioquímicas, trocas e transformações de energia.

Somos matéria e energia __ energia que nos permite comunicar, pensar, pegar numa caneta, acreditar nos nossos princípios, fantasmas e medos.

ENERGIA, que faz mover o Universo do qual fazemos parte e que, por vezes, nos faz ser tão “mesquinhos” que olhamos apenas para o nosso umbigo, enrolados no fundo de uma cama, e esquecemos o Sol que brilha lá fora, e as mãos que continuam ao nosso lado, dizendo-nos: __”Vem viver a vida. Dá um berro, se quiseres. Mas, vem viver."

Eu tenho tido essa sorte. Tenho tido as mãos necessárias, para me dizerem: __” Põe-te, de pé, outra vez. Caíste, mas tens aqui, não uma, mas duas mãos”.

Só penso naqueles que não as têm, que não têm condições para conseguir as tais moléculas que têm o poder de voltar a encaminhar os neurónios. Que não têm ninguém disponível para as apoiar. Que, enquanto a cura não vem, não têm alternativa a serem estigmatizados. Embora, hoje em dia, já pareça haver uma maior compreensão para estas situações.

Possivelmente, nada podemos fazer a nível individual, mas podemos deixar o testemunho daquilo que é perder o controlo da única coisa de que somos senhores. Podem-nos tirar tudo, até os braços, as pernas, os olhos ou a própria vida. Mas, não nos tiram o pensamento. Essa energia que justifica a nossa existência. Dentro dele somos livres, mesmo que vivamos em cativeiro ou em ditadura. 
Mas, ironia das ironias, são os nossos inimigos internos que nos tiram essa liberdade __ A QUÍMICA DOS NOSSOS NEURÓNIOS __ O que é tão fabuloso, mas pode ser tão tremendamente doloroso!...







Se tenho duas mãos, alguma coisa poderei fazer?!... Este é um primeiro passo... Dar esperança de que se tivermos conhecimento das nossas fragilidades e limitações, podemos aprender a viver com elas, acreditando em quem está para nos ajudar. Hoje, sinto-me estabilizada, graças à medicação que se encontrou para o equilíbrio do meu organismo que não será necessariamente o mesmo de outro indivíduo, mas adaptado a cada caso e situação. Já que, somos mais frágeis do que a maioria das pessoas, no que se refere a situações  de "stress", de instabilidade e de carácter emotivo (essencialmente), há que reconhecer onde estão os nossos limites e aceitar a situação com naturalidade... 

Essencial, é também a compreensão e aceitação dos outros, pelo que o problema não toca apenas ao "bipolar", mas também a quem o acompanha na vida do dia a dia...






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