domingo, 20 de dezembro de 2009

HISTÓRIA DE QUEM NASCEU POBRE - AVEIRO / PORTUGAL - INTERIORIDADE E CONTRASTES

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( Imagem retirada da NET)
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1993... No interior do Distrito de Aveiro, na dita “santa terrinha”, era madrugada. Levantou-se sem fazer barulho. Acendeu o fogão a lenha e pôs a água da chaleira a aquecer pois, àquela hora e naquela altura do ano, o esquentador pendurado no espaço da sala que funcionava como cozinha não tinha potência suficiente para, rapidamente, aquecer a água gelada dos canos. Mas, ainda assim, aquele esquentador era o luxo da casa, juntamente com a televisão a preto e branco que ela tinha comprado com o dinheirito que foi amealhando desde que, o sonho de espreitar o mundo lá fora através daquela “janela”, se começou a insinuar.

Depois da higiene matinal, dirigiu-se para a porta do pequeno quarto. O abafado chiado da porta a abrir não foi suficiente para a despertar. A luz fraca, que atravessava agora o vão da porta, iluminava o pequeno rosto de menina. Os cabelos desalinhados espalhavam-se sobre o lençol branco. Estava na hora. Já eram cinco da manhã. Depois de a olhar por instantes, tocou-lhe de leve no ombro. A pequenita mexeu-se mas continuou a dormir. Agora, foi um abanar suave mas mais repetitivo e mais forte. A neta abre os olhos e olha-a vinda do mundo do sono. A avó diz-lhe: __”Vamos, filha. Está na hora de levantar. Vou levar as vacas ao pasto e já volto. Não te atrases...”

Abriu a porta da rua. Recebeu um abraço gelado do vento de fora. O frio infiltrou-se por todas as frestas da casa que ainda não tinha aquecido grande coisa com o calor do fogão de lenha. Determinada, aconchegou o xaile ao corpo e saiu.

A pequena tinha que se despachar. Não tardaria e a avó estaria de volta para levar as vacas leiteiras para a ordenha. Não havia tempo a perder. Pegou no jarro do leite e verteu algum do seu conteúdo para dentro de um púcaro de esmalte. Pô-lo a aquecer na chapa do fogão de lenha. Preparou as coisas para a escola. Tomou o pequeno-almoço. A avó tinha-lhe deixado um frasquinho de doce em cima da mesa. A sala começava a estar menos fria.

Quando a avó chegou para vir buscar as vacas que ficaram no estábulo, a pequenita já tinha as botas calçadas e estava pronta a remover os dejectos dos animais. Depois, havia que fazer a cama para quando elas regressassem ao estábulo. Tinha que espalhar palha suficiente sobre o chão para que ficasse bem coberto e preparado para as receber.

O sol começava a querer iluminar o horizonte. Tinha que se lavar e vestir para ir para a escola. Tinha que ser rápida porque a camioneta não esperava.

Às quatro e meia da tarde, chega a casa. O espaço da cozinha estava arrumado. Mas havia tudo o resto a fazer. Estava na hora de ir buscar as vacas ao pasto. Ajudar à lida da casa. Fazer os trabalhos de casa, tanto quanto possível. Ajudar a preparar o jantar.

Os meninos, lá fora, que já tinham acabado os deveres da escola, brincavam uns com os outros até à hora do jantar. Mas ela tinha que ajudar a migar as couves, a descascar as cenouras ou as batatas. A hora da janta não esperava e, no dia seguinte, voltariam a levantar-se antes do sol raiar.

Arrumada a mesa de jantar e a cozinha, senta-se diante da caixa mágica. A avó deixava-a, depois de todas as tarefas cumpridas, ficar um tempo a viajar com aquelas imagens a preto e branco. Viajar por todo o lado. Espreitar a vida de outros meninos, de outros animais, de outros mundos... A sua “santa terrinha” começava a parecer demasiado pequena apesar dos seus oito, nove anos.

O tempo foi passando e, um dia, vai de férias junto à Capital. Encontra outros animais para cuidar. E fica. Ficou, agora, para cuidar de cães. Hoje, só volta à “santa terrinha” de férias e para visitar a avó. A avó já não tem as suas vacas, já não tem as terras para cuidar. Mas tem uma neta que ela ensinou a gostar do que faz e que trabalha arregaçando as mangas dando o melhor de si. Só que uma neta que, apesar de tudo, não teve infância.

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2012 - CASCAIS  


Vimo-las à venda num super-mercado.
Ficámos surpreendidos. Mas é, sem dúvida, engenhoso e útil...


Um dia, chega uma senhora ao canil. Era uma senhora velhota que tinha como principal companheiro o seu pequeno cão rafeirote. Tinha que o deixar no “hotel” por umas semanas. A moça ficou surpresa, quando a vê chegar também com um enorme saco levado meio arrastado pelo chão. Antes de voltar a sair, a velha senhora, precisava de deixar todas as instruções necessárias para o bem estar do seu animal. É, então, que começa a tirar uma parafernália de apetrechos, roupas e camas. Sim, porque havia uma cama para os dias frios e outra para os dias quentes; todos os objectos necessários à higiene de um cão e um verdadeiro guarda-roupa digno de uma estrela de Hollywood: casaquinhas para todas as ocasiões __ muito frio, frio, chuva e calor.

(Imagem retirada da NET)

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Sem dúvida de que devemos cuidar dos nossos animais, dar-lhes carinho, mimá-los. Mas, um casaquinho de Verão, mesmo sendo ele o principal, se não o único, verdadeiro companheiro da sua dona já velhota...
E que dizer de um carrinho de bebé com cobertinhas e tudo?!... Somos as primeiras a gostar de animais, mas causa alguma estranheza...
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