quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

"NATAL DE 1971" - JORGE DE SENA

.
.
.

.
.
Gosto do Natal. Mas já não temos em casa crianças pequenas que vivam a magia do Natal, do Pai Natal e do Menino Jesus... Hoje, as nossas crianças já são crescidas. Ou, as que o não são já começam a estar muito "instruídas" e, o Pai Natal, é acima de tudo e quase só os presentes. (Devo rectificar este meu parágrafo. Quando, hoje, dia 12, na televisão, pedem aos meninos de todo o Mundo que peçam poucos presentes porque o Rodolph, uma das renas do Pai Natal, tem a pata partida... parece que, afinal, e felizmente, eu é que estou desactualizada. E, a história do Pai Natal, continua bem viva. Para além de que muitos meninos há que continuam a viver a ilusão)...

Ainda assim, gosto do Natal, como uma época em que as pessoas se tornam mais afáveis umas com as outras para além do que é habitual; do Natal que constitui um pretexto para as pessoas se encontrarem e confraternizarem, trocarem mimos, felicitações e buscarem no que comem um pouco das tradições.

Gosto dos enfeites das ruas, das lojas, das nossas casas. Gosto de fazer embrulhos, imaginar os presentes, criar pequenos mimos adaptados a cada um. Mas gostava de que, o Natal, fosse um pouco mais do que isso. E há quem o faça mas eu não.

Quando lia alguns poemas, encontrei este de Jorge de Sena __ "Natal de 1971". Fez-me pensar que, a tal coisa que falta nos nossos Natais, ainda é mais complexa. Fez-me pensar que não podemos desistir do nosso Natal, pois não vamos resolver nada com isso... mas que, muita coisa, não está certa... Não está!






Natal de 1971



Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
As cinzas de milhões?
Natal de paz agora
Nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
Num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
Roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
Em ser-se concebido,
Em de um ventre nascer-se,
Em por de amor sofrer-se,
Em de morte morrer-se,
E de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
Quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
Num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
Com gente que é traição,
Vil ódio, mesquinhez,
E até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Ou dos que olhando ao longe
Sonham de humana vida
Um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
E torturados são
Na crença de que os homens
Devem estender-se a mão?



Jorge de Sena
(Imagens da NET)
.
.

Sem comentários: