segunda-feira, 21 de maio de 2012

PORTUGAL / CASCAIS - Ó SINO DA MINHA ALDEIA (FERNANDO PESSOA)










Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma.


E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.


(Poema de Fernando Pessoa __ esse poeta tão facetado e discreto, expoente da poesia do século XX)



Do nascer ao pôr do dia ouvímo-lo tocar. Dá as horas lá do cimo, no campanário da igreja, espalhando o som pelas redondezas dando conta das horas e, para que se não percam, também as meias. Ainda que tenha dúvidas, sinto algo de maior que bate dentro do meu peito ao ritmo de cada uma das suas cadenciadas e arrastadas badaladas. Para nós não é passado. É um presente de companhia. Quem sabe um dia saudade...




sexta-feira, 18 de maio de 2012

FOTOS - NO BANHO DO CÃO






"Dog parking" - a cada cão sua trela...




Onde fica o que fica quando saímos... 




Duvido que haja cão para isto...






(Fotos tiradas em Maio de 2012)


quarta-feira, 16 de maio de 2012

UM ANJO CHAMADO BOB





O nosso Bob



Os anjos deverão existir segunda a religião católica e, talvez, outras confissões religiosas que eu desconheço. No entanto, para mim, a sua existência é uma incerteza.

Mas certeza, certeza... é a de que tenho a minha "sombra cinza e branca" a que posso chamar "anjo da guarda". É ele o nosso Bob.

Se os anjos não são homens nem mulheres. Se os anjos não têm sexo. Este meu "anjo" é de carne e osso e tem quatro patas. É o ser que alguma vez me foi mais dedicado... Para além de quem me é mais querido, nem o meu periquito amarelo, nem os outros cães que já tive conseguiram igualar tanta dedicação... 

Há quem diga que "quanto mais se conhece os homens mais se gosta dos animais". Será que, apesar de haver homens e mulheres capazes de dedicação extrema a alguém, ou a alguma causa ou a um projecto, esta forma incondicional de amar de uma maneira tão desinteressada, genuína e espontânea, só existirá nos nossos amigos de quatro patas?!... Segundo se diz, "o cão é o melhor amigo do Homem". E o Bob tem sido um "anjo da guarda" que cresceu para olhar por nós, apesar de ter entrado como um diabinho capaz das maiores tropelias...




(Foto de Maio 2012)








terça-feira, 8 de maio de 2012

Panadinhos de perú - COMIDA "RECICLADA"








Os tempos são de crise e, ainda que o não fossem, podemos e devemos "reciclar" o que perdeu a graça ou é repetitivo por ter sobrado de outras refeições, sempre que tal nos for possível.
 
Aqueles panadinhos de perú já não estavam estaladiços, a sua carapaça com pão ralado estava mole e desengraçada. Já eram de três dias atrás.

Se tivermos alguns condimentos guardados para os "disfarces", se olharmos o que temos no frigorífico e na despensa na altura, podemos "maquilhar" os alimentos que voltam a ficar gostosos e com uma nova apresentação.



                                                         


E, desta vez, foi assim:
Deitei uma golfada de azeite numa frigideira.
Piquei um resto de tomate e de cebola não temperados
que tinham sobrado da salada.
Esmaguei três dentes de alho.
Cortei um raminho de salsa em pedacinhos.
Deitei tudo sobre o azeite aquecido e deixei alourar.
Adicionei um pitadinha de sal e meio gindungo.




Sobre a "cama" formada pelos ingredientes alourados, coloquei os bifinhos de perú mantendo o pão ralado e deitando por cima de cada um deles um pouco do tomate pelado (de conserva) e aos pedaços com manjericão e oregãos. Deixei aquecer durante uns instantes e voltei-os ao contrário deixando-os estar até me parecer estarem no ponto.




"Et voilá"!... Um novo prato. Bonito e, pelo que parece, gostoso... Acreditem que o manjericão e os oregãos dão sempre um toque especial!...


(Fotos tiradas 8 de Maio)




domingo, 6 de maio de 2012

A CHUVA CAI E A MENSAGEM SEGUIU...







"Lá fora a chuva fina cai no chão e ascende
Um aroma gostoso que sobe da terra molhada,
E uma felicidade que de mim não depende,
Impulsiona-me a dançar descalça pela calçada. . . .

Toda tristeza nesta hora escorre por meu corpo
E vai-se embora correndo pela rua abaixo.
E o novo me domina extraindo o que estava morto.
E neste momento, em meu destino me encaixo. . . .

Vejo o arco-íris enfeitando o céu e, em minha boca,
Um imenso sorriso ilumina minha face fria.
Eis que surge uma outra criatura, feliz e louca,
Adormecida dentro de mim e que eu não conhecia."



  (Fotos retiradas da NET)

(Poema de Daniele Dallavecchia)



Olho pela janela. O dia está cinzento. A chuva cai. Mas a alma está leve. Por vezes, as relações humanas são difíceis. Queremos concertá-las. Estará para além de nós?!... Ou será que nem todas?... A vida é tão breve. Porque não facilitar?!... Porque acumular rancores?!... 

Peguei no telemóvel. "Teclei" letras. Formei palavras. Desenhei sentimentos... Por mim, passou. E por lá talvez também... Se assim foi, desta vez foi fácil. E das outras?!... E para os outros?!...Fica a esperança de que, com a passagem do tempo, todos possamos olhar através das gotas de chuva que escorregam pelas vidraças da janela e possamos voltar a ter a alma mais leve.

"Perdão" __ Essa palavra existe?!... Ainda que seja por nós e para nós próprios?!... Será assim tão difícil?!...

Olho pela janela. O dia está cinzento. A chuva cai. Mas a alma está mais leve e amanhã vem sol... A mensagem seguiu.  








quinta-feira, 3 de maio de 2012

PARQUE DOS POETAS / OEIRAS - AO ENCONTRO DE SOPHIA DE MELLO BREYNER - DE OEIRAS A BELÉM






A tarde fria de Inverno descobria um sol luminoso e acolhedor. No meio de um enquadramento cuidado em materiais e geometrias, podiam-se ir encontrando as formas arrancadas à pedra de corpos de alguns dos nossos escritores que se distiguiram na poesia... Fernando Pessoa, Manuel Alegre e tantos outros. É então que vislumbro aquela figura firme de mulher com um vestido azul pálido e os cabelos amarelos. Foi uma mulher determinada e lutadora que, para além de poetisa e mãe, se inspirou nos filhos que criou para escrever contos infantis que encantam os pequenitos que os ouvem: " A Menina do Mar", "A noite de Natal", entre muitos outros.

   


Sento-me num rebordo de pedra. E, de repente, sinto-me viajar no tempo... para uma outra tarde também ela de Inverno e luminosa, só que a uns dias antes do Natal...




Sentados em pequenas almofadas coloridas dispersas pelo chão numa semi-penumbra esperavam ansiosos o que ainda não sabiam bem que iriam ver. O ambiente era simples e podiam ver-se alguns objectos que não sabiam para que serviriam. Os jovens rapazes e raparigas  que os acolhiam procuravam sossegar aquelas cabecitas que em expectativa procuravam descortinar o que estava para acontecer. 




Sentada na rectaguarda, num dos bancos de pedra que ladeava uma das pequenas janelas da Torre, sentia o frio que atravessava o tecido das calças, pensando que talvez aquele banco já ali estivesse há séculos na torre mais emblemática de Portugal... O Sol entrava pela janela. Não nos aquecia mas mostrava-nos uma paisagem linda sobre o Tejo que corria manso e magestoso. Transmitia-nos uma tranquilidade que contrastava com a agitação dos pequenitos que se calaram assim que as portas se fecharam. "Uma noite de Natal", ia começar. Conseguia aperceber-me do fascínio que começaram a sentir pela forma extremamente simples com que a história ia sendo contada por aquele pequeno grupo de jovens com os quais iam interagindo. Uma forma diferente de contar uma história com um mínimo da adereços e num espaço tão carismático da nossa História. 




Não conhecia nenhum trabalho de Sophia, para além da "Menina do Mar" que vi representar com igual mestria na minha escola. Não sei se foi a história que me encantou mas o ver como foi contada. Não sei se o meu filho, o seu amiguinho e os outros meninos guardaram a recordação daqueles momentos. Mas, em mim, ficou gravada a magia daquela tarde... o toque dos sininhos, o gozo de ver a interacção com a pequenada, a capacidade de utilizar um mínimo de objectos e materias para contar uma história cheia de movimento e beleza. E, sobertudo, apreciar o encantamento de quantos ali estavam e ter como testemunha o Tejo que, tal como no tempo de Vasco da Gama, talvez ainda tenha a luz dos anjinhos que iluminaram o Natal da Joana e do Manel, personagens da história... Talvez eles ainda lá estejam e nos possam valer nesta fase em que se encontra o nosso país...

Tal como diz o refrão da Cantata da Paz de Sophia de Mello Breyner: "Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar". Que maior riqueza podemos proporcionar aos nossos filhos do que o gosto pela leitura e, porque não, um conto de Natal. Depois... A opção é deles. 

   

(3 primeiras fotos tiradas em Fevereiro no Parque dos Poetas, em Oeiras e as seguintes do interior da Torre de Belém retiradas da NET)