segunda-feira, 7 de junho de 2010

COICES, MOSCAS E MOSCARDOS...

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(Imagem retirada da NET)

Era Sábado. Dia das aulas de equitação. Calçados os pés, cabelo ao ar, dirigíamo-nos apressados para as instalações que se encontravam paredes meias com um dos bairros da lata..

Eram instalações bastante toscas, as paredes feitas de tábuas. Do teto já não lembro mais. Eram um espaço onde se alinhavam as baias onde estavam resguardados os cavalos. Cavalos bem cuidados pelos seus tratadores que eram os nossos instrutores.

O volteio fazia-se frente ao estábulo no terreiro vermelho de terra batida. Aí sentíamo-nos seguros, donos e senhores do “nosso” cavalo, qual Alexandre Magno nas incursões, invadindo território inimigo.

O pior era quando íamos à rédea livre __ passo, trote ou, então, ao galope possível... Aí o tombo seria maior. Era demasiado miúda para pensar por entre as passagens estreitas a que se chamavam as ruelas daquele bairro da lata.

Fazia sempre a escolha da “minha” égua preferida. Depois das nossas cavalgadas, depois de termos ajudado a escovar os cavalos, de lhes termos dado como recompensa os pedaços de cenoura e o bocado de açúcar, palmas abertas lambuzadas pelas línguas dos nossos companheiros, levávamo-los até às respectivas baias. O espaço era demasiado pequeno em relação à parede. Eu estava de costas para a baia da minha égua preferida. Sinto na coxa uma dor forte. Era uma mosca que a fez dar o coice. Aconteceu, porque por ali havia moscas... Mas... era a minha égua preferida a “minha” Graciosa!... Ainda hoje lembro a desilusão que senti na altura.

Se os cascos do nosso animal preferido deixam tanto “dano”, ainda mesmo que sem querer. Imagine-se do que diremos de quem um dia levou um coice, até mesmo de quem preferimos, da vida, de nós próprios, das nossas expectativas... Às vezes, quem sabe, provocado por uma insignificante mosca...

Costuma-se dizer : __” Deixa estar, o tempo tudo cura:” Talvez sim, talvez não. Mas, o tempo não varreu o vermelho do chão, a sensação áspera e húmida da língua que nos lambia a mão; a sensação da liberdade a passo, a trote e, até mesmo no galope possível.

Só que o tempo também não deixou esquecer que o estar de cima do cavalo calçado ou estar descalço no chão, não eram bem a mesma coisa, dentro daquele bairro da lata.

Por esses lados, talvez nem um batalhão de moscas ou moscardos peçonhentos, lhes possa valer. Ou será que a voz da es-pe-ran-ça , pode vir a ser útil?!...

Sim, porque as “chatas” das moscas também podem ser úteis.



Foto 2010

Patas de cavalo. Estas são verdes.
Será que os bairros da lata vão mesmo deixar de existir?.
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