terça-feira, 8 de março de 2011

É SÓ PROCURAR NA AGENDA...


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( Imagem retirada da NET) .


Quando miúdos, os anos passam mansamente num mar de despreocupação e alegrias. Mas eis que eles começam a galopar, a atropelar-se e a fugir-nos sem que nos apercebamos disso. Segunda... Domingo... outra vez Segunda...

Quanta saudade do tempo em que o tempo e a amizade eram coisas simples, sem rodeios, sem medos, sem dúvidas e expontâneas... Coisas que apenas entreviam um sentido da vida sem futuro nem passado. Tempo onde só o presente valia. Presente que estava na boneca que se vestia, no carrinho que se lançava, no avião que partia numa viagem de partilha de alegrias, tristezas, cumplicidades. Já mais tarde, vieram as dúvidas, as incertezas e irreverências da nossa adolescência.

Tinha acabado o meu trabalho. A ideia bailava-me na cabeça havia tempo. A saudade bateu. Procurei nas agendas mais recentes. Não encontrei. E se naquela mais velhota?!... Procurei-a. Lá estava ela. E ali encontrei o número do telemóvel daquela que, um dia, foi a miúda loira e de olhos verdes do outro lado da rua.

Marco os algarismos do número que tinha guardado, um a um. Será que ainda... Oiço uma voz do outro lado: __"Sim?!... Quem é?" Aquela já não era a voz da miúda loira. Mas...

Perfeito deleite!... Fui-me "identificando"... __"OLá, rapariga loira de olhos verdes!... Daqui fala uma tua amiga de há muito e por muitos anos." Do outro lado de lá, a dúvida permanecia. Continuei: __"Cheguei atrasada. Era a aula de preparação para o parto. Todas as grávidas com os seus barrigões já estavam sentadas em círculo no chão. Quando eu entrei, pediste desculpa, levantaste-te num rompante e abraçámo-nos. Aos anos que não nos víamos!..." Ela estava quase lá. Riu-se e disse: __"Continua!" Continuei: __"A Rua C.M. não te diz nada?" Ouço-a exclamar: __"Malay!"

É isso. É só pegar numa agenda... Hoje, já não estamos do outro lado da rua. Hoje, estamos bastante longe. Mas, quem sabe, possamos continuar uma viagem interrompida. Sim. Agora, é só pegar na agenda.

Se calhar, não é só com a miúda loira, morena ou ruiva, ou com o rapazito alto e espinafrado ou o gorduchito que era sempre o último a chegar ao coito quando jogávamos às escondidas... Se calhar, já não é só com o amigo que já não mora ao nosso lado... Se calhar, até é com quem está à distância de um : __"Olá, como estás?!... Se calhar podíamos..." E, o tempo, talvez não fugisse tão depressa, por instantes que fossem. Talvez o tempo voltasse a ser o tempo sem futuro nem passado, coisa simples e expontânea, memória guardada numa agenda tornada presente ou, quem sabe, esquecida para sempre...

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1 comentário:

Fatima disse...

Querida Malay as saudades que eu tenho de ouvir algumas vozes ao telefone....! Sabes, é por isso que eu de vez em quando pego na minha agenda antiga e ligo. Vou mantendo elos, porque a vida não faz sentido sem eles....

Um grande beijo para ti