terça-feira, 2 de junho de 2009

QUANDO SÓ NOS RESTA DIZER: ADEUS COMPANHEIRO! POCK SÓ TU!...

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Era uma bolinha de pêlo. Tão trapalhão, quando chegou!... Tentava andar sobre a relva e tombava para os lados... "pock...". Levantava-se. E, de novo, "pock...", voltava a cair. Foi assim , que lhe demos o nome de Pock.

__ "É tão lindo!... Parece um ursinho!..."; __"É tão engraçado... Parece um leão!..."; __"É tão..." Era o encanto de adultos e criançada.

Esteve connosco nove anos. Teve uma vida feliz. Asseado, festas q.b. (característica dos Chow-Chow que, meio gatos, não se desgastam em grandes manifestações afectivas). Nunca esteve doente. Era o companheiro do meu filho. Dedicado a todos da casa.

Repentinamente, começou a sangrar quando comia. Deixámos a ração normal. Passámos a cozer carne picada com arroz trinca, até fazer uma papa mole que, ele, adorava. Mas, a sofreguidão com que comia, fez-nos alertar para a gravidade da situação.

Quando se lhe deitava a comida, punha-se à frente da taça, tomava fôlego e sorvia todo o conteúdo da lata, de uma só vez. Sem parar... Quando acabava de comer, parecia cansado e o sangue aparecia no fundo do prato... no chão... De dia para dia, a situação se ia agravando mais. Pior ainda, a água, também começou a ser um problema. A sede apertava... Diante da tijela da água, tomava balanço e bebia sem parar até ficar saciado. O sangue caía para a água, caía para o chão. Entretanto, tinhamo-lo levado ao veterinário. Tinha uma ferida nas gengivas e no céu da boca. Havia que fazer uma biópsia.

O Pock tinha um grande defeito. Uma das coisas de que mais gostava era de ir à rua. Só que, se tornava desobediente, escapando-se, se tivesse a oportunidade. Isso, limitou muito as nossas saídas "para ir dar uma volta lá fora". Chegou o dia de irmos saber o resultado da análise... A consulta era a meio da tarde. Iria passear com ele tanto tempo quanto pudesse. Começámos logo pela manhã. Fui buscar a trela ao lugar do costume. Ele deu largas ao seu contentamento. Passeámos pelo bairro, de manhã e à tarde. Fizemos um sem número de voltas. Ele não se cansava. E, naquele momento, eu sabia que lhe estava a proporcionar o maior prazer que lhe podia dar.

Estava a aproximar-se a hora de irmos. As minhas lágrimas eram vencidas pela esperança num milagre. Ajudámo-lo a saltar para dentro da mala do carro. Estávamos de saída. Sentimos a Mariana, que trabalha em nossa casa, aproximar-se. __" Eu sabia que ainda ía chegar a tempo... Eu sabia!..." Tinha acabado de chegar. Tinha os olhos marejados de lágrimas. Ele manifestou alegria por a ver, como sempre acontecia. Esperámos um bocadinho. Ainda havia tempo. Tempo que desejavamos adiado. O silêncio era quebrado pelos sussuros de palavras de carinho e de esperança de podermos voltar a casa todos juntos outra vez.

Ia levar o meu filho a casa dos Avós. Até àquele momento, não nos queria acompanhar ao veterinário. Chegados lá, subiu. Resolvi pegar de novo na trela e prendê-la à coleira. Fomos dar mais uma volta. Quando já nos dirigíamos para o carro, vi chegar a minha mãe que tinha descido juntamente com o meu filho. Ainda, havia uma réstia de esperança, mas não sabíamos o que o destino nos reservava... Por isso, também ela queria mimar o nosso companheiro de nove anos. Afinal o meu filho também já queria ir. Metemo-nos, de novo, os três, no carro. Os olhos da minha mãe, brilhantes das lágrimas teimosas que lhe nadavam nas pálpebras, seguiram-nos.

Enquanto aguardávamos na sala de espera, o Pock, deitou-se entre nós dois, encostado a uma das minhas pernas. Íamos fazendo-lhe festas que recebia consolado. Estava com uma tranquilidade fora do normal. Enquanto lhe fazia festas e mexia no pêlo, o meu filho, encontrou uma carraça à deriva naquele mar cor de mel. A primeira carraça que lhe encontrámos, em nove anos de vida!...

De repente, ele abana a cauda (um belo espanador beje claro). Olha para a porta com as orelhas mais levantadas. Eis que vê aparecer o dono, que tinha deixado o trabalho, para também estar ali presente. Olhava com carinho para o seu "ursinho" que, tinha trazido para casa, nove anos antes. Parecia apreensivo. Também eu tentava controlar as minhas emoções. "Ainda há uma esperança...", "Ainda, não sabemos os resultados..." Mas, as lágrimas, queriam saltar. Tinha que as empurrar para dentro... Procurava afastar os pensamentos mais pessimistas. Concentrava-me nas carícias que lhe fazia.

Entrámos. O veterinário do Pock, conhecia-o desde cachorro. Normalmente, recebe-nos de forma cordial e alegre. Desta vez, estava com uma expressão preocupada. Havia uma sombra no seu olhar que nos deu o resultado da análise mesmo antes de ele falar. O meu filho já não quiz entrar como sempre tinha feito. Saiu para a rua.

Pusemos, aquele cão ainda robusto e bonito, em cima da marquesa. Coisa que ele aceitava bem desde que estivessemos junto dele.

__"Vou anestesiá-lo, para que possamos ver concretamente o que se passa. Para já é uma situação reversível. Só o vou pôr a dormir..."

A minha mão não cessava de o afagar. Ele estava tranquilo. A anestesia começou a fazer efeito. A língua ficou tombada para fora da boca. Nós os três, e a moça que dava apoio ao médico, permanecíamos em silêncio. Por baixo do pêlo, continuava a sentir-lhe o batimento cardíaco... O veterinário, abriu a boca ao nosso cão, para que pudessemos espreitar. O que vimos foi terrível. Uma parte, do céu da boca e do maxilar, estava destruída, formando um grande buraco. Alguns dos dentes estavam meio soltos do maxilar. Agora, entendíamos a razão do sangue que caía na comida e na água; agora entendíamos porque bebia e comia tão sofregamente e tão rápido. O apetite mantinha-se, a sede também, mas as dores deviam ser insuportáveis. O veterinário olhou para nós. O desânimo era total.

Pior do que as coisas acontecerem, é termos de ser nós a determinar para que elas aconteçam... As lágrimas saltavam. Já nada as conseguia travar. As minhas mãos não paravam de o acariciar em desespero... Talvez pedindo para que não tivesse que tomar a decisão necessária. A partir dali seria a completa degradação e o sofrimento atroz daquele bicho de que tanto gostávamos . O dono estava em "choque", não conseguia falar naquele momento. Foi ele quem o trouxera para casa: __"É tão engraçado, parece um ursinho!..." Chamámos-lhe Pock, porque, aquele novelinho de pêlo, era tão desengonçado ao tentar andar... E, agora, voltava a ficar completamente indefeso e à mercê daquilo que fosse a nossa opção.

Estávamos suspensos no tempo, na angústia de decidir. A decisão era nossa. Tinhamos esse direito?!... Ele é um animal. Tem direito a uma vida digna. Tem o direito a não sofrer. Tinha um cancro que lhe roía a carne e os ossos. Nada mais havia a fazer. A operação só iria adiar a situação. Ele levou uma vida feliz. Era uma alegria na casa. Foram nove anos. Nove anos de companheirismo. Nunca tinha tido problemas de saúde. Ele não podia tomar a decisão. Estávamos nós ali... O coração apertado. A garganta entalada. A pergunta, saltou: __"Ele não vai sofrer?!..."

Na forma tranquila e afável que lhe é característica, ouvimos a explicação: __"Neste momento, está anestesiado. A respiração é tranquila. Para o pormos a "dormir" vou injectar-lhe um líquido que vai provocar a parelisia do músculo cardíaco." Olhámo-nos completamente impotentes e destroçados. Voltámos a olhar para o veterinário nosso amigo e amigo do Pock de tantos anos... Assentimos com a cabeça. Já não se podia voltar atrás. Já não era possível controlar o choro. À medida que, o líquido, ía entrando, as lágrimas escorriam pela cara... Tentei controlar os soluços que teimavam em se acumular na garganta. Ainda o sentia. Estava, também eu, "anestesiada", pela pressão enorme que me apertava o peito. Continuando a fazer-lhe festas, debrucei-me sobre ele... O meu corpo tombado sobre o dele: __"Ele, ainda sente as minhas festas?!..."

Senti uns pequenos estremecimentos. __"Ele ainda sente alguma coisa?..."

Já não estava entre nós. Continuava a tentar controlar-me. Mas, nessa altura não foi possível. Com grande compreensão, o veterinário perguntou, ao fim de algum tempo de consternação, o que queríamos fazer ao corpo. Se queríamos que fosse ele a tratar do assunto."__ Sim. Queria que ele fosse cremado.", respondi. __"Descancem que faço isso. Agora vou levá-lo." Com cuidado, tirou-lhe a coleira com a chapinha onde se lê a palavra "POCK" e o número de telefone de nossa casa. Passou-mas para a mão.

Hoje, essa coleira com a sua medalhinha, está entre as inúmeras coisas de recordação deste nosso percurso pela vida. Ela está pendurada na nossa sala de trabalho.

Foi o maior desgosto da vida do meu filho. Pela primeira vez, o vi chorar convulsivamente, fechar-se no quarto e enfiar-se na cama, completamente desolado. Afinal tinha sido o seu grande companheiro desde menino. Falei com ele, respeitando a sua dor, para o consolar e para que pudesse compreender melhor. Prometi-lhe que arranjaríamos outro cão e que, se ele quizesse, até lhe poderíamos dar o nome de Pock.

__"Não, Pock, não!..."

Ele tinha razão __ "Pock", só o nosso Pock!..."

Hoje, temos um Bob peludo, brincalhão, meigo e obediente. Pela ordem natural das coisas, também poderemos vir a perdê-lo... Nessa altura, não iremos hesitar. Ele viverá, enquanto tiver qualidade de vida...


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11 comentários:

Fatima disse...

Oh minha amiga estou sem palavras.

Um grande abraço solidário

Ana Oliveira disse...

A Fatima trouxe-me ate aqui...
Porque conheci de perto esta dor, entendo a angústia da decisão e a tristeza da ausência.
Deixo um abraço forte e com muito carinho.

Ana Oliveira

maria tereza disse...

.sei o k sentiu...passei por situaçao identica....comprendo perfeitamente 1 abraço

pensamentosametro disse...

Vim aqui porque a Fátima me disse que precisava de um abraço, qui fica o meu grande enorme de amante de animais que tem um Bix, um boxer de 9 nove anos a quem chamamos neto e nem sequer concebemos o dia que se juntará ao "Pock".

Bjos grandes



Tita

M.A. disse...

Ao longo da vida passei algumas vezes por momentos idênticos. O último há cerca de um ano, com o Nóbel, um lindo "labrador" já com 14 anos e uma velhice avançada. A situação foi semelhante à do seu Pock,também o veterinário deu o mesmo parecer.
Trouxe-o duas vezes ao blog e, a terceira vez foi a Fátima que falou nele, justamente na altura em que ele nos deixou. Mas, Malay,como muito bem disse no apontamento que escreveu, ele deixou de ter qualidade de vida e os seus donos, ao aceitarem a decisão que o medico sugeriu,foi também por amor que o fizeram.Ficaram-vos decerto muito boas recordações, fotografias, etc. e é isso que agora deverá lembrar quando a saudade apertar.
Deixo-lhe um grande e amigo abraço

Malay disse...

Ao ver estas mensagens, fiquei extremamente sensibilizada, fiquei-o sobretudo pela solidariedade das pessoas, e pelo amor aos animais que desperta tal sentimento. Na verdade, o Pock já morreu há 4 e... anos. Mas, para nós, é como se tivesse sido ontém. Hoje, ele é uma doce lembrança que valeu bem a pena a angústia passada e a decisão tomada. Agradeço do fundo do coração, também pelos animais que têm a sorte de ter tais donos.

Anónimo disse...

Sempre rainha da sensibilidade e detentora da arte da escrita!!!!

Apaixonada escreves...
Apaixonada levas a vida...

E mais, tens o dom de deixar fluir esta tua paixão imensurável ao longo palavras que concebes na tua escrita!

Bem sei o amor que nutrias pelo teu "Pock", tal como nutres por qualquer animal que cruze o teu caminho...

Bem sei que a tristeza nos inunda o coração e as lágrimas que nos inunda os olhos nestes momentos de perda e de subsequente solidão e vazio!

Mas também sei, que por baixo desse véu de sensibilidade e amor incondicional, existe uma força maior...

Como sabes, tens e terás sempre a minha compaixão e a minha disponibilidade para partilhares as tuas tristezas e angústias, mas também os teus momentos de felicidade e de realização!

Nunca te esqueças que tens aqui um pilar ao qual te podes agarrar quando estiveres a ir ao fundo ou apenas segurar quando não precisares de suporte!

Também saudoso do "ursinho" "Pock" que detinha uma personalidade tão própria...a "bolinha de pêlo" que reinava a sua casa branca e o seu quintalzinho...Outro igual nunca haverá...

Mas há que lembrar os nove anos de alegrias, cada ano singular de partilha, cada mês de passeios (em que quem era passeado não se sabe...), cada dia de vida que viçosamente foi aproveitado, cada hora, cada minuto, cada segundo...

Nunca esquecido pelos que conheceram, o "Pock" ganhou o seu lugar na família e os amigos, ora pela sua personalidade inabalável ora pelos seus momentos, mais escassos, de ternura...

Beijos enormes

Acho que sabes de quem! ;)

Malay disse...

Estas palavras são-me muito gratas. Mas, eu só as posso entender completamente, se souber de quem são. De qualquer forma, obrigada, por estas palavras que, embora exagerem os meus sentimentos e capacidades, são extremamente gentis.

Anónimo disse...

aiaiai...

Claro que sabes de quem são!

São de um teu sobrinho...

eheheh

bjinho

Malay disse...

Agora compreendo completamente. É, também, por isso, que gosto tanto de ti...

Anónimo disse...

NÃO TENHO NADA A ACRESCENTAR AO QUE FOI DITO...

BEIJINHOS GRANDES. M.M.