quarta-feira, 3 de março de 2010

VIVER NA ALDEIA - DOURO / PORTUGAL

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Serra do Marão vista do lado de Resende
(Fotografia cedida pela minha mãe)


Terra de vinha, batata, milho, castanha, cereja... Cereja, essa fruta tão bela e tão frágil. Brincos vermelhos e rosa que enfeitam os nossos dedos em gostoso deleite. Maio, mês da cereja. Quantos de nós lá não vamos por um fruto tão apetecido.


(Imagem retirada da NET)




Um dia, um homem que era da cidade porque a vida assim o determinou, decidiu partir para as terras do Douro para lá ficar até ao fim dos seus dias.
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Douro. Terra das neblinas matinais que sobem do fundo do vale em gigantescas massas de algodão, deixando descobertos ao fundo o Marão e as partes mais altas dos montes. Terra do frio das manhãs de Outono marcado nas gotas coladas aos vidros das janelas de guilhotina e caixilhos brancos. Terra do gorgolejar de fontes de águas frescas e pequenos regos de água que facilmente se encontram ao curvar na vereda ou ao poisar no som oco da laje que serve de “ponte”. Terra do eco da tarde que serve de veículo a saudação ou recado ainda mesmo que à distância. Terra que um dia nos viu brincar e que nos permitiu conhecer melhor aquele homem que foi da cidade.
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Homem da cidade que escolheu a aldeia; as gentes do campo como interlocutoras; o doce perfume das maçãs empilhadas no sombrio e fresco armazém grande; a sala com as janelas voltadas para o Marão, com o soalho feito de longas tábuas corridas que rangem à nossa passagem marcando a sua presença.
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Pois é! Os sons... Também eles tão diferentes. Os poucos carros que por ali passam vão pela estrada que está lá longe... ouve-se o chiado do carro de bois que penosamente avança na calçada íngreme e pedregosa anunciando o começo de um novo dia, e que ainda assim vem atrasado porque os galos já o cantaram desde a alvorada. As badaladas do sino da capela que encima a aldeia e chama os fiéis ou toca a rebate em caso de incêndio. Os inevitáveis foguetes nas festas de Verão que troam por todos os montes e vales, mas que festejam quem vem à terra matar saudades. A música da carrinha dos frangos que se espalha pelas margens do Douro e dá um tom de alegria à sua passagem. A saudação cordial devida a quem passa seja homem ou mulher, conhecido ou forasteiro.
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E que bem sabe o fresco da tarde debaixo da parreira junto ao tanque da rega!... e ver os campos cuidados; ter os ovos na capoeira, as frutas à mão, uma cesta de cerejas colhidas ali mesmo naquela cerejeira que está ali ao fundo.
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Sem dúvida de que a listagem seria imensa... Uma listagem imensa do essencial para viver bem quem um dia foi da cidade e aprendeu a roer o caroço da cereja...
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(Foto retirada da NET)
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