terça-feira, 2 de março de 2010

"CEREJAS" - EM MEMÓRIA DE QUEM ONTÉM NOS DEIXOU...

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A minha taça já está muito vazia de cerejas. E quantas delas não desperdicei!... Pior ainda, os meus cinquentas ainda não me ensinaram a roer bem os caroços... Mas houve quem o conseguisse fazer até que se apagou a chama da vida. A sua taça ficou vazia finalmente. O essencial!... Apenas o essencial!... E foi assim que viveu aquele homem que tive a sorte de conhecer.
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Este poema de Mário de Andrade ilustra bem como viveu um homem que saboreou as suas cerejas desde muito cedo:


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(Fotografias retiradas da NET)


"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
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Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
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'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!"
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...Também para ele bastou!


(Poema de Mário de Andrade - enviado pelo Filipe)



2 comentários:

Fatima disse...

Malay.....

U grande abraço

Malay disse...

Obrigada, Fátima, pelo abraço. Viver também é isso. Um dia a vida apaga-se. E, quando ela se apaga mansamente em sintonia com a morte, então, até pode mesmo chegar a ser uma benção. Só que deixa saudade.