quarta-feira, 14 de março de 2012

HISTÓRIAS DE ARANHAS

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Que todos sabemos que as aranhas são aracnídeos fundamentais para o equilíbrio de muitos ecossistemas ao alimentarem-se dos insectos em excesso, não surpreende ninguém. Mas, que podem ser importantes por muito mais do que isso, é que já nem toda a gente sabe!... Há mesmo quem as deteste. E, com excepção das que são venenosas, não haverá razão que o justifique.




PRIMEIRA HISTÓRIA


"TESOURO"



Era jovem. Andava na Faculdade quando, numas férias, fiz parte do intercâmbio de estudantes que nos permitiu ir passar três semanas com uma família num pequeno vilarejo perto de Cambridge.

A mim, calhou-me uma família onde estava instalada também uma moça francesa com quem fiz amizade. Foi uma experiência extraordinária e muito enriquecedora.

Na família, havia um rapazinho, o David, e a sua irmazita, a Davina, que esperavam mais um irmão para breve. Ganhei as boas graças do David, a ponto de partilhar comigo o seu segredo mais bem guardado. Certo dia, "arrastou-me" cautelosamente para as traseiras da casa onde havia uma pequena casa-de-banho que parecia não ser utilizada normalmente. Entrámos. Pediu-me silêncio. A aproximação foi "estratégica"... É, então, que o David aponta orgulhosamente para o seu "tesouro". Mais precisamente para o canto do parapeito da janela e diz: __" Look, my spider!..."

Desvalorizando o facto de já estar morta e ressequida com as patas encarquilhadas para o ar, sem dúvida de que era um pequeno tesouro, até porque "as aranhas trazem sorte"...




SEGUNDA HISTÓRIA


"PERSISTÊNCIA"


Na nossa escada em "caracol" abrem-se duas "vigias" alongadas na vertical. O remate do caixilho de uma delas não estava perfeito. O que acabou por constituir o lugar ideal para que uma aranha aí se instalasse. Ao longo de muito tempo, possivelmente anos, ela lá permaneceu, independentemente de irmos destruindo o rendilhado em seda que aquele bicharoco laborioso se afadigava a construir teimosamente.

__"Matá-la?!...": __" Fora de causa!..."; __"Apanhá-la e pô-la fora de casa?!...": __"Também não." Restava a paciência para ir desfazendo aquela renda delicada, que era a sua teia, feita com o mesmo esmero de uma Penélope esperando pacientemente o regresso do seu herói e amado Ulisses.

Um dia, apercebemo-nos de que ela já lá não estava. Foi, então, que vedámos de uma forma mais eficaz as frestas da dita janela.

E, agora?!... __"Querem saber um segredo?!..."; Teria preferido continuar a desmanchar as teias. Já fazia parte da casa. E, pelo sim pelo não, não seria até que era capaz de nos trazer alguma sorte?!...





TERCEIRA HISTÓRIA


"COMPANHEIRA"

Uma amiga que me é querida passa alguns serões sentada no seu sofá de canto, enquanto vê televisão, lê ou ouve música. O sofá fica encostado ao canto da sala onde se encontra um candeeiro de pé com uma larga base circular.

Quando nos juntámos em sua casa, contou-nos a história da sua "aranha de estimação". Ao cair do dia, quando começava a escurecer, a aranha, que se eclipsava completamente durante o dia, dava sinal de si. Punha-se junto à base do candeeiro e do lado do sofá, e aí permanecia até que a nossa amiga apagasse a luz e se fosse deitar. "Ia fazer-lhe companhia!". Só podia!...

Ao ouvirmos este relacto e porque já estava escuro, fomos todas espreitar. Mas não, ela não estava lá...

A conversa continuou, até ser hora de nos irmos embora. O Sol já tinha desaparecido havia tempo, a luz do candeeiro já estava acesa. Começaram as despedidas, vestiram-se os agasalhos... E se espreitássemos outra vez?!... Lá estava ela. Tímida e frágil, mas presente!

O que "pensará" uma aranha? O que é que ela vê? O que será que "sente"? Sem dúvida de que vem em busca de alguma coisa. O quê? Os bichinhos que se dirigem para a luz, ou a companhia de alguém que ela sente presente em muitas das noites?

A Biologia explica muita coisa. Será que explica isto?!... A teia do Universo que nos rodeia é demasiado complexa.Vamos acreditando que estes pequenos seres, tão úteis no equilíbrio de alguns ecossistemas, até talvez nos possam trazer sorte, ser um amuleto ou simplesmente companheiros nas nossas casas que nos podem acompanhar por muito tempo. Quanto tempo, não sei. Mas muito pode ser. Sou disso testemunha...






(Fotos retiradas da NET)

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1 comentário:

Nicast disse...

tenho desmanchado muitas teias, depois dessa leitura, vou prestar mais atenção...