terça-feira, 19 de janeiro de 2010

UM PROFESSOR MUITO À FRENTE... LUANDA - LICÉU NACIONAL SALVADOR CORREIA


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13, 14, 15 anos __ idade da irreverência, da provocação e do confronto com a autoridade.

Éramos uma turma formada só por raparigas e bastante razoável.

História, tinha sido uma das disciplinas minhas preferidas. Mas havia um senão naquele ano, a aula vinha imediatamente a seguir ao intervalo grande.

Dava o toque. Víamo-lo passar com o seu cabelo branco, passada tranquila e pasta castanha na mão. Para algumas de nós estava na altura de avançar para a porta da sala e acompanhar a entrada do professor, munidas com os nossos sacos de batatas. Algumas dirigiam-se para o fundo da sala, tiravam as canetas ou lápis e a folha de papel quadriculado para cima da carteira... Estava em vista uma renhida batalha naval! Outras sentavam-se nas carteiras vagas da frente para seguir a aula do professor. Até porque “at
é era interessante e, bem vistas as coisas, dum ponto de vista prático, a matéria já ficava meio estudada”.

Finalmente, as restantes iam entrando e oferecendo directamente as batatas fritas ao professor. E, depois, ficavam na sala ou voltavam a sair novamente, sem que isso fosse motivo de reparo por parte do nosso professor.

A História para mim e para outras das alunas não deixou de ser uma das disciplinas preferidas. Mas, ainda hoje me pergunto que pedagogia era aquela? Se o professor como pedagogo era bom ou mau. Ou se não estaria muito à frente?!...
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Seria o exercício de uma "democracia plena" para a qual , nós, miúdas de 13, 14, 15 anos não estávamos preparadas?!... Até porque isto se passou há quase 40 anos... Época em que nem tudo era permitido muito menos o "exercício da liberdade"...
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Assim, permitir a livre circulação dos alunos para dentro e para fora da sala de aula ao som do mastigar das batatas fritas compradas no intervalo grande, e conseguir ter atento e interessado um grupo significativo das alunas... me faz perguntar que, se calhar, não foi essencialmente o conteúdo programático de História que ficou daquelas aulas mas sim o sentido de responsabilização pelos nossos próprios actos.

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(Licéu Nacional Salvador Correia - Luanda / Angola)




(Imagens retiradas da NET)



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